Doméstico e o selvagem. São estas as dimensões em que se centra a residência artística Pedras (Stones), de Erik Samakh promovida pelas Aldeias do Xisto, no âmbito do Projeto Entre Serras – Europa Criativa.
A decorrer em Cunqueiros, Proença-a-Nova, de 23 de julho a 10 de agosto, nesta residência artística, Erik Samakh estabelece relações com a aldeia e os seus habitantes alicerçando-se em dois eixos: a construção coletiva de um observatório de aves e outros mamíferos, em pedra de xisto; e a relação com a caça, pesca e agricultura familiar como modo de vida tradicional e de subsistência que ainda faz parte da identidade das aldeias do interior do país.
A residência explora a relação entre o doméstico e o selvagem, destacando as tensões e possíveis simbioses entre estes dois mundos. Examina a forma como os limites entre o doméstico e o selvagem são percecionados pelos habitantes e a forma como a natureza selvagem é domesticada pelos seres humanos. Inversamente, como os elementos da vida doméstica (terras agrícolas, florestas, rios …) regressam por vezes a um estado selvagem.
O comportamento humano oscila entre práticas "primitivas", como a caça ou a pesca, e atividades "domesticadoras", como são a agricultura e pecuária familiar, apicultura. A forma como os animais domésticos e selvagens interagem com os seres humanos e os seus habitats questiona a noção de identidade e a forma como esta é moldada pelo meio ambiente. Como é que percebemos o "selvagem" e o que isso nos revela dos nossos medos, desejos e preconceitos?
É essencial envolver a comunidade local no processo criativo. Assim a arte será utilizada como meio de sensibilização para as questões ambientais e sociais. A utilização de materiais locais será privilegiada. Eis a metodologia artística:
• Criação de uma instalação (um observatório em pedra de xisto);
• Workshop de construção em pedra seca de xisto, com a população local;
• Momentos de convívio em torno da caça, da pesca e da agricultura familiar;
• Festa (refeição inaugural da obra com produtos locais).
Com o objetivo de sensibilizar para a proteção da biodiversidade e de conservar determinados espaços “selvagens”, Erik Samakh, os habitantes e outros artistas locais convidados, colaboram com a Associação de Cunqueiros, as Aldeias de Xisto, o Ecomuseu da Floresta e o Município de Proença-a-Nova, numa ação que espelha a sociedade contemporânea, destacando as oportunidades e os desafios associados a relação entre o rural e o urbano.
Erik Samakh, nascido em 1959 em Saint-Georges-de-Didonne, define se como artista caçador-coletor. É um artista contemporâneo e professor das escolas nacionais de arte francesas. A sua obra, reconhecida internacionalmente desde meados dos anos 80, combina novas tecnologias e elementos naturais, nomeadamente o som e a luz. Trata-se de um diálogo constante entre o homem e a natureza, em que o espaço anteriormente cedido ao poder das imagens se torna um lugar de escuta. Os elementos tecnológicos (sementes de luz, flautas solares, etc.) são utilizados para chamar a atenção para sítios naturais, como parques regionais ou reservas geológicas (Parque Natural Regional de Lorraine, Gargantas de Riou, Floresta da Tijuca no Brasil, Centro Internacional de Arte e Paisagem de Vassivière, etc.).
Erik Samakh trabalha com o Projeto Entre Serras desde 2017, altura em que desenvolveu as instalações in situ Pirilampos, em 4 paisagens de montanha (Rossim, Gardunha, Santa Luzia e Mesa/ Nascente do Côa). Estas instalações estão representadas na exposição do Projeto Entre Serras / work in progress apresentada no âmbito do seminário "Arte, Paisagem e Turismo sustentável", que decorre em Castelo Branco de 19 a 22 de julho.